domingo, 19 de setembro de 2010

A minha tríade perfeita

Há um momento em nossas vidas que achamos que nada mais resta, que as coisas vão perdendo o sentido. Não há religião que dê jeito e, embora não entremos em depressão, ela quase nos chega à porta, devagarinho. Eu estava assim, as coisas não aconteciam, uma porção de projetos que não davam em nada.  Minha mãe sabia que havia algo de errado em mim mas não tinha palavras para me confortar porque sua simplicidade era maior que ela mesma e as palavras não lhe chegavam conformemente. Mas dizia que algo de bom estava para acontecer. E acertou em cheio. Quando Laís nasceu o mundo me sorria e outro homem também nascia. Laís foi minha luz, a estrela que passou a me guiar em constância, foi minha razão de viver. Ela nada sabe, mas ainda hoje devo-lhe isto, devo-lhe pelo fato de ter-me devolvido à vida.
Fiquei bobo, tonto, enchi a cara. Seu nascimento foi notícia para todo lado, não foi o nascimento de uma anônima. E todos queriam saber dela, ver suas fotos, enfim. Não conseguia afastar-me, queria ouvir seu choro, dava o mundo por um riso seu. Sofria quando adoecia, varava noites se fosse preciso. Isso talvez só entenda quem já foi pai.
É curioso todo esse derramamento e meus amigos intelectuais ainda hoje fazem gozações desse tão arraigado sentimento que sempre tomou-me. Mas em todas as rodas, em todos os shows, em todas as viagens havia sempre uma pergunta: como está Laís? E assim foi sempre, pessoas que nem a conhecem. 
Um grande sofrimento foi quando tive que partir para Moscou. Era tão pequena. Não foram poucas as vezes em que me peguei matutando, querendo desistir da viagem porque achava que iria me esquecer. Na então capital soviética a angústia me tomava e acabou por piorar quando recebi a notícia da morte de minha mãe. Os trens todos de Moscou passaram por cima de mim. Mas quando chorava o rostinho de Laís me aparecia em sonho dizendo que estava tudo bem.
O tempo passou e me dou conta de que nunca consegui escrever-lhe um poema. No fundo, acho que ela  é mesmo o meu poema melhor acabado.   
Agora chegaram Yuri e Henri, as rimas que faltavam no poema. Laís é mãe de Yuri e Henri, os gêmeos que me tornaram, de novo, um bobo. E o mais incrível é que chegaram num momento difícil de minha vida. Mas como aconteceu quando sua mãe nasceu, eles me restituíram também a alegria de viver. E vivo assim para amá-los. É minha tríade eterna.

2 comentários:

  1. Não tenho palavras para demonstrar a emoção que sinto nesse momento. Obrigada! Meu tio, pai, amigo, conselheiro... Te amo muito! E tenha certeza do lugar especial que ocupa em meu coração! Grande beijo!

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  2. Pôxa Luis me emocionei, QUE AMOR LINDO!
    Espero que Deus lhe dê muitos anos de vida para que vc possa compartilhar esse amor com os netos de Lais e que eles sejam mais uma luz em sua vida.
    Um grande abraço. Lhe admiro muito.

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