quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Em defesa do artista


Um dia Marisa Gata Mansa contou-me, entristecida, de uma passagem sua na Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Depois de sair, milagrosamente, de um longo período de enfermidade, resolveu fazer o que sabia -- cantar -- e procurar os meios que poderiam lhe dar respaldo. Na Secretaria foi atendida por um garotão que disse: “a senhora deixe um currículo que o examinaremos”. Bah, o idiota, atuando na Secretaria de Cultura de uma cidade como o Rio de Janeiro, que sempre quis ser a Capital Cultural do país, desconhecia o nome de Marisa e sua trajetória na música brasileira! Uma piada! 
Quando me contava isso, seus olhos enchiam-se de lágrimas, até porque não entendia tanto descaso, não aceitava esses assassinatos em vida de tantos outros artistas.      
O episódio é relembrando aqui, porque fui surpreendido recentemente com a notícia de que Carmélia Alves teria ido para o Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro.
Conversei com Cervantes, velho amigo -- meu e dela. Sim, era verdade. Sem condições de arcar com as despesas do apartamento alugado em Copacabana, não teve outra opção.
Como Carmélia, outros tantos artistas penam com o descaso. Público e Particular. Alguns nomes conhecidos já partiram dessa sem que nem mesmo a imprensa noticiasse.
Em São Paulo um desses sabichões que vivem para se apossar do que não lhe pertence, deixou os artistas de São Paulo sem sua Casa, o que existe hoje é uma rua com o nome de “Casa do Ator”. Ironia.
Isso será sempre assim. Os políticos estão mais preocupados com suas questões pessoais ou em colocar seus nomes em placas do que oferecer qualquer ajuda no sentido de preservação da memória nacional. Eles nem sabem do que se trata. E o sei por experiência própria, dado que tive oportunidade de discutir com vários deles.     
Quando dirigi os eventos na cidade de São Paulo criei -- sem que houvesse interferência de gabinetes -- um espaço musical onde vários dos nomes esquecidos puderam se apresentar, entre os quais Moreira da Silva, Ademilde Fonseca, Emilinha Borba, a própria Marisa Gata Mansa.
O que fazer hoje em dia? Esperar que apareça uma Carmem Costa e insista na decisão de requerer o seu tombamento? Pena que no Brasil tombamento signifique derrocada, queda. Sim, tombar no Brasil é derrubar, literalmente.
Creio que agora é o momento de nos juntarmos e requerermos o tombamento (com direito a uma boa pensão) de nomes como Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, apenas para lembrar de duas grandes cantoras que estão no esquecimento. Quem topa?
 
        



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