domingo, 19 de setembro de 2010

Memórias

Trecho de livro de memórias em preparo

(...) 

Cacaso, o poeta, falava de um brasileiro muito conhecido, mas pouco observado, aquele de estatura mediana. Hoje eu compreendo que ser um brasileiro acabado é ser alagoanovense. Vejo que as nações elegem ciosamente seus filhos exemplares e os honram como tais. A Inglaterra tem Shakespeare, a Itália um Dante, a Espanha tem Cervantes. Todos encarnam respectivamente o gênio da pátria que os viu nascer.  Quem disse isso? Miguel Torga?  Alagoa Nova tem a mim. A mim? E quem mais se iguala a mim, senão, com toda certeza, um outro alagoanovense? Vejamos: Gonzaga Rodrigues, Teócrito Leal, Toinho Bezerra, Eudes Barros, José Saldanha, Jeová Colaço, Péricles Leal, Analice Caldas, Padre José Borges de Carvalho,  Wills Leal, Evaldo Lira,  um Estácio Graciano, que era para mim o símbolo de uma geração, e na conta de alguns desses terem morrido, acrescentemos ao time um filho postiço: Clodoaldo Muniz. Todos devendo ser honrados. E sabe por que? Porque nenhum como nós testemunhou tão vincadamente os estigmas de nossa gente, no melhor e no pior. Embora muitos reconheçam que somos poucos, com a velha mania de anular, de achar que somos tão anódinos como qualquer anônimo brasileiro que nasce no Quixadá, cresce ao deus-dará, corre seca e meca, atravessa as águas do Orós, do São Francisco, e regressa para casa para morrer pobre e incompreendido. Como Camões. 

Sabe o que acho? Que Alagoa Nova nunca esteve morta nem esgotada; que o difícil para cada alagoanovense (ainda lembrando Miguel Torga) não é sê-lo; é compreender-se. Nunca soubemos, talvez, olhar friamente para nós no espelho da vida, porque a paixão nos tolda a vista. Daí a espécie de obscura inocência com que atuamos em sua História. A poder e a valer, nem sempre temos a consciência do que podemos e valemos. Hipertrofiamos provincianamente as capacidades alheias e minimizamos maceradamente as nossas, sem nos lembrarmos de que uma criatura só não presta quando deixa de ser inquieta. E nós somos a própria inquietação encarnada. (...)

2 comentários:

  1. LUIS, COMO SEMPRE VC EMOCIONANDO COM SUAS BELAS E SÁBIAS PALAVRAS. AMEI O TRECHO , FIQUEI COM GOSTINHO DE QUERO MAIS. GOSTARIA DE LER LOGO SEU LIVRO, PUBLIQUE-O POR FAVOR.....BJOS 1000!!!

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  2. lindo, lindo, lindo!!!!!!!!!!!!!! o que mais posso dizer? bjos anna waleska

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